O Romantismo na Inglaterra
Notas soltas sobre literatura e pintura
Pendiam os seus mastros, mergulhava a proa…
Como quem, a dar gritos e golpes em perigo,
Persegue e pisa a sombra do inimigo,
Curva à frente a cabeça,
O barco assim se evade; e ruge a tempestade
Que ao sul nos arremessa
E de repente nos envolvem névoa e neve,
Com um frio assassino;
E, alto de um mastro ao vê-lo, flutuava gelo
De um verde esmeraldino
(45–54)
“A Balada do Velho Marinheiro” Samuel Coleridge e William Wordsowrth
O aparecimento do neogótico arquitetônico inglês na metade do século XVIII e a volta de temas de artes medievais anunciaram o romantismo inglês.
A Inglaterra começou a passar por sua Revolução Industrial e como reação, escritores e artistas fizeram uma busca pela natureza, pelo cotidiano e pelos modos de vida simples do campo.
As Lyrical Balads (1798), de Samuel Coleridge e William Wordsowrth marcam o surgimento do Romantismo literário na Inglaterra. Depois veio Lord Byron (1788–1824) com seu individualismo melancólico e outros grandes nomes como William Blake (1757–1827) e John Keats (1795–1821).
Na pintura destacaram-se Van Dyck (1599–1641), John Constable (1776–1837) e J. M. William Turner (1775–1851).
Contudo, do romantismo inglês, o que mais me chamou a atenção foi o movimento conhecido como Pré-Rafaelismo. Os grandes nomes desta escola ou grupo artístico são Dante Gabriel Rossetti (1828–1882), William Holman Hunt (1827–1910) e Edward Burne-Jones (1833–1898). Articulados em uma irmandade, estes pintores faziam críticas ao academicismo da pintura e buscavam retratar seus temas inspirados na literatura medieval, religião e natureza.
Suas obras evocam sentimentos poéticos e retratam com muita decoração cada cena ou paisagem. Flores, pomares, jardins encantados e rostos femininos com longos cabelos, cores vivas e contrastes, tudo dando significado à palavra “Romantismo”. Suas pintura, desenhos e vitrais nos dizem como viam os tempos medievais: uma era de “transparências ternas e perfumes sagrados”, como escreve G. K. Chesterton.
“Conhece o leitor o quadro de Holman Hunt, líder da Irmandade Rafaelita, intitulado ‘A Sombra da Morte’? Ele representa o interior da carpintaria de Nazaré. Jesus, nu até a cintura, está em pé ao lado de um cavalete de madeira sobre o qual colocou a serra. Seus olhos estão erguidos ao céu, e seu olhar é de dou ou êxtase, ou de ambas as coisas. Seus braços também estão estendidos acima da cabeça. O sol da tarde, entrando pela porta aberta, lança, na parede atrás dele, uma sombra negra em forma de cruz. A prateleira de ferramentas tem a aparência de uma trave horizontal sobra a qual suas mãos foram crucificadas. As próprias ferramentas lembram os fatídicos prego e martelo.
Em primeiro plano, no lado esquerdo, uma mulher está ajoelhada entre as aspas de madeira. Suas mãos descansam no baú em que estão guardadas as ricas dádivas dos magos. Não podemos ver a face da mulher, pois ela se encontra virada. Mas sabemos que é Maria. Ela parece sobressaltar-se com a sombra em forma de cruz que seu filho lança na parede.
Os pré-rafaelitas têm fama de serem sentimentais. Contudo, eram artistas sérios e sinceros, e o próprio Holman Hunt estava decidido, conforme ele mesmo disse, a ‘batalhar contra a arte frívola da época’ — o tratamento superficial de temas banais. Ele passou os anos de 1870 a 1873 na Terra Santa, onde pintou ‘A Sombra da Morte’ em Jerusalém, no telhado da sua casa. Embora a ideia historicamente seja fictícia, é, contudo, teologicamente verdadeira. Desde a infância de Jesus, deveras desde seu nascimento, a cruz lança uma sombra no seu futuro. Sua morte se encontrava no centro da sua missão. E a igreja sempre reconheceu essa realidade.”- John Stott na obra “A Cruz de Cristo”.